A democracia é um sistema imperfeito. Nunca é demais repetir este alerta. Mas acredito que alguns libertários com viés mais anarquista levaram a lógica para um extremo perigoso. Hoppe é o grande ícone deste grupo, quando lembra que a democracia é um “deus que falhou”. A questão, porém, é outra: se a democracia for vista como uma espécie de deus, naturalmente ela estará fadada ao fracasso. Aliás, qualquer modelo irá falhar, sempre! Eis o ponto importante aqui: todos os modelos políticos para convívio em sociedade terão inúmeros problemas. Perfeição é algo que não existe quando se trata de seres humanos.
Não é correto, portanto, atacar um sistema imperfeito com base em
utopias. Podemos – e devemos – apontar os riscos e os defeitos da
democracia. Mas não acho honesto fazê-lo de cima de uma torre de marfim,
oferecendo em troca um paraíso platônico construído nas nuvens da
imaginação. O papel aceita qualquer coisa. A abstração é capaz de
produzir os mais belos mundos. O diabo está nos detalhes. Quando o sonho
precisa dar lugar à prática, aí é que mora o perigo. E a experiência
mostra que revoluções idealistas costumam acabar muito mal. Anarquia não
virou sinônimo de caos à toa, ou por conta de alguma conspiração
mirabolante de intervencionistas.
Os liberais são realistas a ponto de perceber isso. Eis a grande
diferença entre eles e seus colegas libertários anarquistas. Como disse
Og Leme, todo liberal é um anarquista frustrado. Ele costuma achar linda
a utopia de uma sociedade sem Estado, mas depois acorda para a vida e
encara sua existência como uma espécie de “mal necessário”, como disse
Thomas Paine. A expressão pode parecer contraditória à primeira vista,
mas faz sentido, pois lembra que certos males demandam remédios muito
amargos ou dolorosos. Liberais jamais adoram o Estado e, portanto, nunca
poderiam colocar a democracia num altar divino. Logo, o deus não
falhou; ele jamais existiu! O problema são as malditas alternativas
concretas, invariavelmente piores.
Hoppe chega a demonstrar certo saudosismo, preferindo a monarquia em
vez da democracia, se tiver que escolher entre ambas. Ele, ao contrário
de Mises, não vê a mudança como progresso. Mas acredito que Hoppe está
bastante enganado, e nesse caso se trata de um fenômeno empírico: basta
observar se há mais ou menos liberdade individual nos países
democráticos hoje. Novamente, que a democracia gerou vários problemas
novos, isso é fato. Mas daí a afirmar que no passado havia mais liberdade
para a maioria dos indivíduos, isso já é bem diferente – e, creio,
absurdo. As democracias mais avançadas, com sólidas instituições e uma
cultura de liberdade, quase sempre são capazes de, gradualmente,
corrigir as maiores falhas e sobreviver, com razoável grau de
estabilidade e liberdade. Olhando a história da humanidade, não é pouca
coisa!
O liberalismo é, em sua essência, democrático. Mário Vargas Llosa
considera os pressupostos básicos do liberalismo “a democracia política,
a economia de mercado e a defesa do indivíduo frente ao Estado”. A
propriedade privada e o Estado de Direito são bandeiras claramente
liberais. Mas o liberalismo é mais que isso. Basicamente, ele é
“tolerância e respeito aos outros, e, principalmente, a quem pensa
diferente de nós, quem mantém outros costumes e adora outro deus ou
simplesmente nenhum”. Vargas Llosa descarta utopias: “Logicamente, salvo
nas belas utopias dos anarquistas, não há como prescindir da existência
de um poder. Mas é possível, sim, contê-lo e opor-lhe contrapesos para
que não se exceda, que não usurpe funções que não lhe competem e não
sufoque o indivíduo”.
O liberal está preparado para viver entre discordâncias e diferenças,
num ambiente de pluralidade em que ninguém se arroga o monopólio da
justiça. Por isso existem tantos tipos de liberais discordando entre si.
Não se trata de um grupo monolítico, que abraçou alguns dogmas
simplistas e ponto final. Trata-se da defesa de uma sociedade aberta,
como colocou Karl Popper, ao contrário de algum sistema fechado e
acabado. Para Popper, “a importante e difícil questão das limitações da
liberdade não se pode resolver mediante uma fórmula seca e cortante”.
Mas isso não é motivo para desânimo: “E o fato de sempre haver casos
fronteiriços, longe de assustar-nos, deve converter-se em mais uma
coluna de nossa posição, visto como, sem o estímulo dos problemas
políticos e das lutas desse tipo, a presteza dos cidadãos em lutarem por
sua liberdade logo desapareceria e, com ela, a própria liberdade”.
Propriedade privada, Estado Democrático de Direito, economia de
mercado, tolerância, liberdade de expressão e individualismo, estas são
as expressões que, no meu entendimento, melhor resumem a postura
liberal. Com isso em mente, há muito que ser feito para melhorar o mundo
ainda, garantindo mais liberdade aos indivíduos. A democracia, enquanto
meio, é uma aliada dos liberais nesta empreitada.
UNIDADE ESCOLAR PROFESSOR FRANCISCO JOSÉ TIBÚRCIO
Turma: "A" Série: 3° Ano Turno: Tarde
Prof. : Edson Sousa
Disciplina: Filosofia
Alunos : Diego Coelho nº: 06
Diego Tiburcio nº: 07
Ednalson Santos nº: 09
Evânio Sousa nº: 10
José Hildo nº: 14
Lucas Rodrigues nº: 20
Thiago Silva nº: 30
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